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quinta-feira, junho 19, 2014

O extraordinário El Niño 1877 – 1878.


O fenômeno El Niño é atualmente bem divulgado, um sistema mundial de meteorologia  mantém atualizações de informações e as possibilidades e intensidade de ocorrência. Esta organização começou com a formação de redes meteorológicas, com atividades regulares, e com o advento dos sistemas de satélites. Todas essas tecnologias surgiram a partir do século XX, a grande pergunta é sobre o passado quando não havia uma forma organizada de observação e analise do processo.
            Atualmente a climatologia histórica tenta responder, em parte, estas questões em base da analise da documentação do passado, na maior parte das áreas povoadas ao redor do mundo não possuía, antes do século XX, estações meteorológicas, em caso de ocorrências de impactos extremos, em alguns casos ficaram registros de administradores, serviços militares etc. comentando o que aconteceu, os prejuízos ocorridos o tempo de duração.
            Neste artigo vamos fazer um breve relato de um dos eventos de El Niño, que segundo os historiadores, foi um dos mais fortes, o fenômeno que começou em 1877 e durou até 1878. A escala de ocorrência deste evento parece ter causado uma convulsão no clima planetário, com forte alteração das condições médias do clima de varias localidades.
            Na Índia e no norte da China, segundo relatos da época, em 1876 as condições começaram a se alterar, as chuvas de monções, tão importante para a agricultura, rarearam e no período deste El Niño, a situação piorou uma intensa seca trouxe falta de alimentos resultando na morte entre 15 e 25 milhões de pessoas. Na África, na passagem de 1877 – 1878, uma seca muito forte dizimou a população do Sudão e do Egito.
            Atualmente os historiadores estão associando o terrível surto de febre amarela que assolou os Estados Unidos em 1878,  devido as modificações do clima, na época, o aumento da umidade criou condições para a proliferação do mosquito Aedes egypti, transmissor da febre amarela. A cidade de Menphis, na época com 50.000 habitantes, ficou completamente deserta, devido ao alto índice de morte provocado pela febre amarela.
Na América do Sul, grandes enchentes do rio Paraná trouxeram enormes prejuízos para as comunidades, no Perú, secas e também grandes enchentes aconteceram em vários locais. Na cidade de Lima, a população, em dezembro de 1877, ficou estarrecida perante o assustador espetáculo que presenciaram, viram a partir das 16 horas o céu cobrir-se de escuras nuvens, seguido de uma tempestade elétrica com muitos trovões e uma tempestade desabou na cidade. As pessoas daquela geração, que não tiveram chance de viajar, nunca tinham visto semelhante coisa. Desde a fundação da cidade, há 340 anos, esta foi a quinta tormenta que se abateu sobre a cidade.
            No Brasil o episódio mais severo que ocorreu foi no ano de 1877, uma terrível seca dizimou a população do nordeste brasileiro. Os camponeses sobreviventes refugiaram-se nas áreas urbanas, onde eram colocados em campos de concentração e morriam  de inanição.

            Estes são alguns dos episódios que a documentação da época relata sobre os acontecimentos produzidos pelo forte impacto deste fenômeno.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Civilizações antigas e impactos climáticos na América do Sul.

O modelo da escala do ciclo dos fenômenos climáticos, esta fundamentado no sistema de redes meteorológicas construídas a partir do século XX. Portanto para a análise de um fenômeno complexo, como o clima, são poucas as informações que possuímos construídas a partir dos dados das estações meteorológicas produzidos desde aquela época até o presente. Observações registradas pelas sociedades são, portanto raras e ainda muito incompletas.
Os dados mais antigos foram construídos pela pesquisa na área da climatologia histórica, proveniente da documentação deixada pela colonização europeia. Em documentos antigos às vezes estão anotados, por exemplo, ocorrência de grandes secas, inundações, ondas de frios etc. Estas informações servem de suporte para registrar a possibilidade da ocorrência de fenômenos meteorológicos extremos nos séculos passados. Ainda não existem séries temporais de larga abrangência espacial produzidas a partir destes dados. A pergunta que fica é: que fenômenos meteorológicos aconteceram antes da chegada dos europeus e onde procurar informações sobre isto?
Atualmente sabemos que inúmeras culturas sul americanas desapareceram antes da chegada dos europeus e outras foram destruídas nos primeiros tempos da colonização. Os dados antropológicos e arqueológicos demonstram que muitos destes povos atingiram um desenvolvido estágio social e estavam fortemente baseados na agricultura, o que era um fator importante para estarem diretamente ligados aos fenômenos meteorológicos. Como agricultores dependiam diretamente do clima tornando-os observadores e registrando o que viam sobre o tempo.
Um dos trabalhos, que revelou dados extraordinários sobre este tema, está ligado à antiga cultura Mochica que estava localizada no norte do Peru entre a encosta da montanha e o litoral, o local é um dos mais áridos desertos quentes do planeta.
Atualmente, no local, existem ruinas de pirâmides, algumas tinham o porte das pirâmides egípcias, denominadas pelos moradores locais de Huacas. Os Mochicas construíram também uma rede de aquedutos que levava água para suas cidades, este sistema é usado até hoje pela população local. As escavações arqueológicas revelaram uma notável sociedade com a metalurgia altamente desenvolvida, uma rica técnica cerâmica, com vasos finamente decorados com desenhos mostrando detalhadamente o cotidiano da sociedade Mochica. Os dados da pesquisa mostraram que entre 560 e 650 DC esta cultura, misteriosamente, entrou em colapso e desapareceu. O que teria acontecido?
A pesquisa do arqueólogo canadense Dr. Steve Bourget trouxe perguntas interessantes. Ao examinar uma grande quantidade de ossos humanos, encontrados no local. A prospecção estratigráfica mostrou inúmeros ossos de seres humanos estavam enterrados num ambiente úmido, na lama. Como poderia ser isso num deserto, onde jamais chove?
As surpresas continuaram o que parecia serem somente restos de prisioneiros sacrificados revelaram, ao longo da pesquisa, que jovens da elite Mochica estavam ali sepultados. A análise dos ossos mostrou que não havia um padrão que motivou a morte, não seguiam os modelos de sacrifico ritualístico. O estudo feito na artística cerâmica revelou um dado surpreendente, a ornamentação, de alguns vasos, mostra guerreiros jovens duelando sob a chuva, a interpretação arqueológica propôs que se tratava de um ritual feito sob chuvas torrenciais. Novas prospecções feitas nas Huacas revelaram níveis estratigráficos com depósitos correspondentes a um ambiente de alta energia, como uma enchente, e nas camadas superiores depósitos de ambiente seco.
O trabalho desenvolvido pelo Dr. Lonnie G. Thompson trouxe elementos para construir um quadro impressionante. Sondagem feita no gelo da montanha revelou, nos testemunhos, sequencias estratigráficas, que quando datadas indicaram que entre 560 e 600 DC o clima da região passou por uma severa transformação, tudo indica a ocorrência do fenômeno ENOS numa escala sem registro histórico. A região foi assolada por 30 anos de intensas chuvas seguidos de um período seco que durou 30 anos, isto arrasou a cultura Mochica. De acordo com o modelo atual do ENSO, períodos úmidos na montanha correspondem à seca na costa e períodos secos na montanha chuva na costa, os testemunhos de gelo mostraram exatamente isto.
Se esta teoria estiver correta um evento desta escala deve ter atingido diversas partes do globo, em especial as regiões próximas provocando, por exemplo, seca na Amazônia e intensas chuvas no sul do Brasil

terça-feira, setembro 06, 2011

Arte e ciência no Brasil.

A produção do conhecimento, sobre a rede natural, se depara com a falta de informações, o registro sistemático dos fenômenos é uma prática recente, facilitado pelo grande desenvolvimento da tecnologia.
Hoje é de conhecimento a grande alteração dos espaços naturais, com a modificação da paisagem e desaparecimento de espécies vegetais e animais como consequência disso. A produção do conhecimento científico se depara com a escala de tempo restrita, praticamente do século XX para o presente, existe grande dificuldade em obter dados mais antigos.
Por isso entendemos que as artes plásticas, práticas como o desenho, gravura e pintura, são uma importante fonte de informação, para a produção científica, no campo da história natural.
Os historiadores têm discutido a evolução da arte, sua tendência e as diferentes manifestações artísticas ao longo da história. Atualmente existe na literatura uma enorme quantidade de informações, sobre este assunto. Porém um interessante material, até o momento pouco explorado, é aquele que se compões de obras que retratam a natureza, nos seus diferentes aspectos, uma arte naturalista, que ocupa uma posição interdisciplinar entre a ciência e arte.
Olga Pombo, ao discutir a obra de Charles Darwin, comenta este tipo de arte, evidenciando que hoje é mais divulgado o que foi produzido por grandes artistas, como os estudos de Leonardo Da Vinci sobre o corpo humano, enquanto que inúmeros trabalhos, feitos por artistas desconhecidos, são raramente citados na literatura historiográfica.
Talvez uma das fontes mais importantes, para este tipo de discussão, seja o material produzido por artistas que acompanhavam expedições científicas antes da descoberta da fotografia.
Neste acervo existem trabalhos que tinham o claro propósito de representar, por exemplo, uma rocha, planta ou pássaro, as expedições, científicas geralmente tinham na equipe artistas para fazer este trabalho. Mas também obras, como representação de paisagens, podem ter informação que o artista, ao produzir, não percebeu, e que hoje podem fornecer informações científicas importantes para os pesquisadores. Emanuel Leroy Ladurie, na sua pesquisa sobre climatologia histórica, usou diversos desenhos e gravuras, de diferentes artistas do século XVII, XVIII e XIX, para o seu estudo sobre a pequena idade glacial na Europa, com o objetivo de analisar a movimentação dos glaciares.
No Brasil os primeiros registros, documentos conservados até o presente, provém de varias fontes. Entre os registros mais antigos da paisagem brasileira, do século XVII, estão as pinturas feitas pelos holandeses Frans Post e Albert Eckout, artistas trazidos para o Brasil por Mauricio de Nassau.
Outra coleção importante é a do brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, amparado pelo governo português, deixou uma obra importante, executas no século XVII, onde aparecem ilustrações detalhadas sobre a flora por ocasião da participação em expedições pelo interior do Brasil.
João Barbosa Rodrigues, engenheiro, naturalista e botânico, pode ser considerado o pai da ilustração científica no Brasil, entre vários trabalhos, executadas no século XIX, deixou uma obra sobre as orquídeas do Brasil.
Hercules Florence, Aimé-Adrien Taunay e O alemão Johann Moritz Rugendas foram artistas que acompanharam a expedição Langsdorf, (1824 – 1829) ao longo desse período produziram uma grande obra de registros do Brasil.
Estes são alguns dos artistas importantes, existiram outros, além do que grande é a possibilidade que se encontre, na grande quantidade de documentos dos arquivos históricos, material ainda não publicado.
Ainda falta um detalhado trabalho de resgate as inúmeras informações, espalhadas em diversos trabalhos, como livros, dissertações, teses, muitas vezes as obras desses artistas aparecem como citações, ou em pequenos comentários.
Por exemplo, a obra do pintor Benedito Calixto, ainda é desconhecida como material de investigação científica, o seu trabalho, óleo, Inundação, retrata detalhadamente um aspecto que pode ser usado como apoio em trabalhos científicos. Também as aquarelas do alemão, Herman Rudolf Wenroth, produzidas no século XIX, pinturas feitas em vários lugares no Rio Grande do Sul, ainda não foram analisadas como material de apoio para a ciência.

sábado, agosto 28, 2010

Enchentes.

Enchentes.
Desejosos de contribuir com meu fraco contingente para o bem estar geral, por uma longa observação geral, por uma longa observação pessoal de perto de 30 annos relativamente a regularidade com que periodicamente se repetem as enchentes dos rios n´este Estado; observação confirmada pelas diferentes informações colhidas de moradores e naturaes antigos da campanha ao correr dos trabalhos diversos, de que aqui tenha sido encarregado já pelo Governo Federal, já por campanhas particulares, é que escrevo estas linhas.
Em scienca e nas industrias, assim como na vida geral, a observação e a experiência são os melhores mestres, as mais verificadas fontes de onde tiramos as mais proveitosas lições.
Em toda parte do mundo, onde a civilização e adiantamento fundem-se observatórios meteorológicos onde se enregistram as observações para a previsão das alternativas climatológicas; e neste Estado onde se podiam estabelecer regras para essas previsões, apesar do progresso crescente que presenciamos, nada ou quase nada há feito n ´esse sentido, e, quase pode-se dizer, não raras vezes são todos surprehendidos na ocasião das repentinas enchentes conseqüentes de grandes temporaes nos anos climatéricos.
Entretanto as enchentes dos rios n ´este Estado repetem-se regularmente de cinco em cinco annos e as grandes enchentes extraordinárias de vinte e cinco em vinte e cinco annos.
Tendo feito parte como nivellador da commisão de estudos da Estrada de Ferro de Porto Alegre á Uruguyana , estudo que o Governo Imperial em 1873 resolveu mandar, executar á vista do clamor causado pelos grandes prejuízos acarretados pela enchente de S. Miguel, em fins de setembro d´este ano, ainda em princípios de 1874 tomeis as referencias do nivel d´agua d´essa enchente nos peitoris das janellas das casas do Caminho Novo, hoje rua dos Voluntarios da Patria, em Porto Alegre.
Foi essa então considerada a máxima enchente de do Valle do Rio Jacuhy.
No correr dos estudos sobre Porto Alegre e a cidade de Cachoeira colhi diversas informações dos naturaes e moradores antigos, propietarios dos terrenos atravessados pela linha.
Em geral os naturaes não conhecem a numeração dos annos e nas suas referencias a annos anteriores os definem conforme as sucessões então havidos. Assim dizem elles:
No anno da grande seca;
No anno da praga de gafanhotos, etc.
Entre o rio dos Sinos e o arroio Cahy um pequeno estancieiro prestando-me informações do nível da maior enchente havida, disse-me:
Três anos depois da pacificação da província (1848) houve aqui uma enchente muito maior do que a ultima, e mostrou-me o lugar a que atingiu esta enchente.
Entre o rio Cahy e o Taquary, perto de um grande arroio chamado dos Paulistas, encontrei um senhor estancieiro, homem idoso, octogenário, que mui benevolentemente foi ao campo onde eu estava trabalhando prestar- me suas informações, e mostrou-me uma corticeira no meio do campo, na encosta de uma cochilha, onde ele afirmou-me que tinha, quando moço, retirado um gado da enchente no anno seguinte ao da independecia do Brazil (1823); e disse-me que essa árvore alli tinha brotado de um galho na occasião ali deixara a enchente no anno seguinte, que afirmava ser superior a ultima de então.
Essa árvore elle conservava como recordação viva do facto.
Reunindo as datas estabeleci a razão arithemetica da repeição das enchentes extraordinárias; e em 1898, quando diretor da Estrada de Ferro de Santa Maria ao Uruguay, determinei as providencias precisas para sem perigo aguardar a força das águas como: limpeza de vallas, desobstrução de estradas e sahida das obras d´arte etc. ; graças ao que não houve nesse anno, apezar de muito climatério, como todos testemunhamos, interrupção do tráfego, pois nem um só trem faltou, apezar dos enormes desmoronamentos, que então houve na serra .
Ficou pois confirmada a minha previsão baseada no período de 25 anos da ultima (1873) porque as enchentes extraordinárias tinham sido em 1823, 1848 e ... 1873.
Pessoalmente tenho testemunhado as enchentes periódicas de 1873, 1878, 1883, 1888, 1893 ( anno em que as forças que se digladiavam na campanha ficaram paradas por causa das enchentes que assoberbavam as várzeas) e 1898.
É conclusão certa que em 1903 os rios transbordarão e que presencearemos uma outra enchente dos rios o território rio – grandense.
Aviso aos senhores estancieiros para nas ocasiões de grandes chuvas retirarem em tempo seus gados das várzeas alagadiças, as companhias de navegação que tem grandes depósitos de lenha nas barrancas do rio etc.
Outros annos tem sido de seccas, como nos dos últimos, ora de enchentes irregulares, como a de 1899.
Também tem succedido outras irregularidades: a enchente de 1873 foi a maior no vale do Ibicuhy do que do Jacuhy
Lançada a idéia, que os poderes constituídos aproveitarão conforme julgarem na sua sabedoria e patriotismo, estabelecendo as estações meteorológicas necessárias, me parecendo que Santa Maria é um ponto importante por sua posição, situada nas pontas da serra e próxima ao coxilhão do Pau Fincado, divisa d´agua dos dous valles principaes, Jacuhy e ybicuhy, coxilhão que indica a directriz das bombas d´agua que defterminam as enchentes grandes, como ficou demostrado em um brilhante estudo que a respeito fez o ilustrado e distincto ex-engenheiro-chefe da E.F. Porto Alegre a Uruguyana em 1893, Dr. Jose Aryosa Galvão.
Também não é só em setembro que pode dar as grandes enchentes dos rios. A maior parte das vezes é nessa época (nos fins de setembro) e por é chamada enchente de S. Miguel; como na Republica Argentina se dá em fins de agosto e por isso se chama de Santa Rosa de Lima. A maior foi a de 1898 foi em junho.
Sendo as chuvas resultantes do encontro das correntes de ar quente com outras frescas – o que determina a condensação rápida, repentina, dos vapores d´agua da athmosfera, importa que as estações meteorológicas possuam meios de collecionar observações sobre força e intensidade dos ventos, temperatura do ar, pressão barométrica, quantidade de vapor d´agua, enfim todos os detalhes completos para o estabelecimento prévio das alternativas, e previsão do tempo.
É esta uma notícia ou uma observação de real utilidade para todos, e por isso é que lhe peço dar publicidade no seu muito lido e apreciado jornal.

Santa Maria, 24 de abril de 1902.
Jose Benedicto Ottoni.
Fonte: Jornal - O Combatente.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Serviço meteorológico

É de tal forma reconhecida a necessidade do estudo da athmosfera que os serviços meteorológicos são executados com todo o cuidado não só na Europa e na América do Norte como até Japão, na Índia e na Austrália.
Creada esta repartição em 1867, se então tivesse estabelecido um serviço diário regular de observação da temperatura, pressão atmosférica, humidade do ar, ventos reinantes e chuvas correspondentes a esses ventos, teríamos já um abundante material para o conehcimento do clima desta capital cuja importância não é necessária encarecer.
Um dos meus antecessores, o engenheiro Antonio de Mascarenhas Telles de Freitas obteve, em 9 de julho de 1872 na administração do Exmo Sr. Conselheiro Jeronymo Martiniano Figueira de Mello instrumentos com os quais se estabeleceu na Repartição um serviço meteorológico.
Tendo tomado, em 1874 a direção desta repartição o engenheiro Manoel Correa da Silveira Netto que era então prof. de Physica e Chimica da Escola Militar levou esses instrumentos com os quais se estabeleceu na Repartição de Serviços Meteorológicos.
Mais tarde foram recolhidos os instrumentos já inutilizados, ficando assim a repartição impossibilitada de fazer observações meteorológicas.
Conhecida, como é, a influencia do conhecimento do clima em qualquer paiz para o estudo das suas necessidades hygienicas, agrícolas e industrial me parece que a Assembléia provincial não deve hesitar em autorizar que Vsa. Ex. a fazer aquisição de instrumentos que facilitem semelhante estudo.
Para a montagem do observatório faz-se necessário que Vsa. Ex. autorise mudança desta repartição para o próprio provincial para ella construída na praça D. Pedro 2o , que hoje serve de quartel general e habitação do Ex. Sr Commandante das armas trocado por um antecessor de V. Ex. pelo pardieiro onde está alojadp o quartel da policia.
A necessidade desta mudança tem sido reconhecida por todos os antecessores de V. Ex. desde o Exm. Sr. Desembargador Henrique Pereira Lucena.

Fonte: Relatório apresntado a S. Ex. o Sr. Dezr. Miguel Calmon du pin Almeida
Presidente da Província do Rio Grande do Sul pelo Exm. Sr. Marechal de Campo Manoel Deodoro da Fonseca, 1o vice-presidente ao passar lhe a adiministração da nossa província aos 9 dias do mez de novembro de 1886.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Elementos para o estudo e determinação do clima.

Com prazer publicamos aqui os resumos das observações meteorológicas feitas pelo nosso ilustrado patrício, o Sr. Julio Antonio Vasques de Taquara do Mundo Novo e em S. Francisco de Paula de Cima da Serra no período de abril de 1890 a janeiro de 1892.
Remettendo-nos essas observações, já que nos haviam sido promettidas no anno passado, escreveu-nos o Sr julio Vasques em abril de 1892:
Duplamente grato pela immerecida deferencia com que obequiou-nos, envio-lhes mais estas pedras para o levantamento da montanha que tão justo empenho que merece apezar de quase absoluto menoprezo que lhe votam os competentes na matéria.
Quando fiscal da estrada de Taquara a S. Francisco de Paula iniciei as observaçõe meteorologicas nas duas villas; deixando, porém, logo depois esse cargo e interessando-me principamente pelas zonas de Cima da Serra, obtive do valioso concurso do ilustre Dr. Jordelino G. de Senna, juiz de direito da commarca, a continuação dessas observações que abrangem um período de dois annos, sendo apenas de seis meses a que fiz em Taquara.
Nas observações de S. Francisco de Paula empregou-se um barometro aneroide comparado, e um thermometro simples. Identicos instrumentos e mais um thermometro de maxima e mínima foram os que usei em Taquara, sendo por isso absoluta as temperaturas desta ultima localidade de maio em diante.
As altitudes respectivas exprimem a medida de diversas nivelamentos por barometros (aneroides): as posições geographicas foram determinada pela carta das colonias do Estado, que se esta fazendo na repartição de obras públicas.
Mereceram-me especial attenção as observações que fez comparadas com as que lhe ofereci; por ellas verifiquei uma diferença constante de 2,5 m/m entre os nossos aneroides, sendo entretanto igual o grao de sensibilidade de ambos, porquanto pelas maximas e mínima de novembro, com a perfeita coincidencia de datas, vê-se a oscilação de 13 e 13,5 m/m para os dois ameroides.
Quanto as temperaturas, as minhas são inferiores em 4,5º na media, mas isto deve ser attribuido a achar-se abrigado o thermometro de que fez uso, e em um lugar menos favoravel do que o seu, tendo ainda verificado por varias vezes a diferença de 5º entre as temperaturas interna e externa.
Em vista do se conhece das publicações feitas em relação das maximas de temperatura n´este Estado, é provável que a minha de 39º,2 em 10 de dezembro de 1890 seja taxada de fictícia ou exagerada, mas eu garanto que ella se deu e foi por min observada.
É verdade que se poderá dizer que seja isso devido à colocação incoveniente que a registrou mas não é assim, pois que tal collocação é, ou pelo menos me parce ser a melhor possivel; sendo de mais a mais a mesma que se achava o instrumento que em 20 de Maio do mesmo registrou a minima de 1º,9.
No Annuario do Observatorio do Rio de Janeiro para 1887 pag. 219, diz-se que a maxima absoluta para o Rio de Janeiro é de 37º,5 e para o Rio Grande do Sul de 32º,4; sobre a do Rio de Janeiro estou de muito bom acordo, porem sobre a do Rio Grande, tenham paciência, eu tenho cá minhas dúvidas; pois, em attenção as latitudes, a maxima absoluta do Rio Grande devera ser mais elevada que a do Rio de Janeiro, e não concordo que as circunstancias locaes sejam taes que tanto a façam baixar; quando a mim a conclusão que tiro, talvez temerariamente, é que as observações feitas no Rio Grande não podem e não deve inspirar grande confiança.
Eu encontrei n´este lugar em 1890 uma maxima de 39º, 1, mas deve notar-se que em 1891 só a tive de 37º, 1 e posso também dizer que em 1889 ella não attingiu 37º ; o ano de 1890 foi bastante excessivo em calores e não é de se admirar que désse uma máxima tal que seja realmente a maxima absoluta do lugar; talvez eu labore um erro mas penso assim.
Jose Antonio Coelho Leal.
Fonte: Annuario Estatistico do Estado do Rio Grande do Sul, 1893.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Temporal em Porto Alegre.

Grande Temporal em Porto Alegre – 1899.

Grande temporal.
Desmoronamentos Prejuízos.

Sábado último às 8 horas e meia mais ou menos da noite, desencadeou sobre esta capital violenta ventania acompanhada de volumosa manga d´agua.
A impetuosidade com que manifestou-se esse phenomeno metheorologico foi tal que não houve prédio que não lhe sentisse os efeitos.
A grande quantidade de areia arrastada da parte alta da cidade obstruiu as sarjetas e os canos do esgotto das ruas baixas dando logar a que a água innundas e os passeios, penetrando em muitos prédios.
Longe iríamos se fossemos dar uma noticia detalhada de todos os casebres, muros e cercados levados pela ventania; entretanto vamos registrar alguns incidentes.
No prado Independência, o enorme carramanchão de ferro ali existente foi todo destruído. Um chalé de taboas do 3o districto foi levado pelos ares.
Na rua Concórdia, um grande muro há pouco construído e que faz esquina com a rua República, rolou por terra. Na mesma rua diversas casas tiveram igual sorte.
Na rua da margem enfrente a rua Luiz Affonso desabou a casa de negócios de Carlos Severini.
Essa rua foi uma das que mais sofreram telhados foram levados inteiros e casas houve que os respectivos moradores tiveram que abandona-las indo pedir auxilio a outros visinhos.
Na rua da Olaria desabou o prédio onde eram estabelecidos com negócio Gonçalves Ferreira & Ca .
No campo da Redempção por onde passa a linha da Porto-Alegrense, cairam 16 postes telephonicos.
Numero egual ou superior caiu também na rua Independência.
Na praia Baronesa, barras de Ferro que três homens não levantam foram arremessadas a 40 ou 50 metros de distancia.
No chamado campo da Baronesa também muitíssimos soffreram os prédios ali existentes.
As paredes que ainda restavam de pé do antigo Palacete Nonohay ruíram por terra.
Um canto formado pelas duas paredes que caíram, ficou de pé à guiza de coluna encimada por um pedaço de platibanda, tendo no alto uma das figuras que adornam a fachada principal do grande edifício.
Os serviços telegraphicos estadual e federal para o interior do estado estão interrompidos desde sábado.
No pateo da casa n. 67 da rua da Figueira, onde reside o Sr João Gonçalves de Castro, inspetor de vehiculos, existia um caixão na extremidade de uma vara, fincada no solo, onde achava-se preso um macaco.
Na ocasião da ventania, o caixão e a vara foram levados pelos ares levando o macaco que não saiu de dentro do caixão.Só ontem o cidadão Castro conseguiu noticia do macaco.
Fonte: Jornal A Federação – 2a feira 17 de abril de 1899. N0 88 (pg 19)