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quinta-feira, outubro 30, 2008

Fenômenos extraordinários no clima do Rio Grande do Sul, Brasil.

Hõrmeyer (1986), comenta sobre a ocorrência de uma onda de frio observada por ele na cidade de São Leopoldo, em 1852, em junho daquele ano. Segundo o seu relato, a temperatura baixou tanto que matou congelada toda a lavoura de cana-de-açúcar e também afetou muitos os pessegueiros, marmeleiros e flores.

Beschoren (1989) cita precipitação forte de neve no Planalto gaúcho em 1858, 1862, 1867, 1871, 1873 e 1875. Desses anos ele destaca a precipitação de junho de 1873, a quantidade era tal que as pessoas brincavam fazendo bonecos de neve. O autor não esclarece em que locais do Planalto houve estas precipitações.
Azambuja (1886) comenta uma forte precipitação de neve em 1870. A neve caiu em diversos locais da província, entre eles Porto Alegre e Caçapava. Nesta última cidade a quantidade foi tal que os habitantes brincavam nas ruas fazendo bonecos de neve. Sobre Porto Alegre, ele faz a seguinte descrição:


Os moradores de Porto Alegre devem recordar-se ainda do aspecto novo e surprehendente, que, ao amanhecer do dia 27 de julho de 1870, lhe apresentaram as montanhas que contornam a cidade, todas brancas de neve até alto dia. Em alguns valles que avistavam da capital as camadas de gelo duraram por dias deixando ver ao longe immensos lençoes brancos.


Talvez o evento mais surpreendente seja a nevasca de 1879. Azambuja (1886) descreve que na noite de 8 para 9 de julho houve uma fortíssima nevasca na região entre os vales dos rios Sinos e Taquari, neste local os campos ficaram totalmente brancos. Em Cima da Serra a intensa nevasca cobriu o solo, vacas foram encontradas mortas soterradas em baixo da neve. Nas colônias de Conde D ´Eu[1] e D. Izabel[2], muitas árvores ficaram totalmente desgalhadas, devido ao peso da neve, no solo a camada chegou à aproximada de 0,40 cm. O barulho das árvores tombando, além do perigo eminente do desabamento de casas trouxe pânico á população local. Dez dias após cessar a precipitação ainda havia, em alguns lugares grandes massas de gelo no solo.

Beschoren (1989) comenta que, em Santo Antonio da Palmeira nevou do dia 8 de agosto até a manhã do dia 9, chegando a altura de neve entre 5 e 6 cm, no dia da nevasca a média de temperatura foi de 2o C. em Passo Fundo e Vacaria também houve precipitação forte, chegando a acumular, sobre o solo, em torno de 8cm, em cada um desses lugares

Azambuja (1886) aponta 1885 como outro ano de forte onda de frio. A partir do mês de junho a temperatura baixou radicalmente. Em Porto Alegre, na parte norte da cidade a minima atingiu 1,6o C e fora da cidade chegou a –2o C, em Bagé, Santa Maria Encruzilhada do Sul, Caçapava e em Cima da Serra a mínima chegou a –3o C.

Em Bagé, no dia 13 de julho começou uma abundante precipitação de neve. O Diário de Rio Grande, na edição do dia 17 do mesmo mês relata que por volta das 10 horas começou um chuvisqueiro impulsionado por intenso vento nordeste que se transformou numa queda de flocos de neve que durou cerca de meia hora, chegando a acumular, no chão, uma camada de 15 cm. O frio foi tão intenso que as linhas telegráficas ficaram ligadas aos para raios interrompendo a comunicação, o mesmo aconteceu na cidade de Cacimbinhas e D. Pedrito. Em cacimbinhas a camada acumulada, no chão atingiu 22 cm.

Em Santa Maria, no dia 11 de agosto começou a precipitação durando até o dia seguinte. A quantidade de neve foi tanta que a população brincava nas ruas fazendo bonecos.

Azambuja acrescenta que os frios de 1870 e 1879 foram muito rigorosos, embora o ápice durasse poucos dias enquanto que em 1885 o frio foi intenso e durou muitos dias.

Outro ano de intensa onda de frio foi 1893. Wenceslau (1974) comenta o relatório dos militares, da revolução deste ano, onde consta que abril foi muito frio e maio, entre 19 e 24. Segundo este documento chegou a acontecer morte, nos acampamentos militares, devido ao frio intenso. Este tempo, frio era acompanhado de intensas chuvas, a ponto dos combates pararem (Pimentel 1945).

Relação das ondas de frio com dados meteorológicos.

Existe dificuldade para fazer a relação entre a descrição das ondas de frio e os dados meteorológicos, devido às poucas informações existentes, em especial onde o fenômeno foi mais forte.
A ocorrência mais antiga que foi possível fazer alguma relação é a onda de frio de 1879. Beschoren (1989) cita que, em Palmeira das Missões, no dia da precipitação, 8 de agosto, a média do dia foi de 2o C, de acordo com os dados por ele levantados a média da mínima de 1879 foi 8o C. Para os demais locais, onde a nevasca foi forte, não encontramos dados meteorológicos.

O frio de 1885, segundo Azambuja (1886) foi o mais intenso, até aquela data, os documentos consultados não apresentam dados meteorológicos regulares, para aquele ano, de modo que faremos algumas aproximações.
De acordo com a documentação Bagé, e Santa Maria, foram 2 dos diversos lugares onde a precipitação de neve foi forte. Usando os dados de temperaturas mínimas de 1887 temos: Bagé – 3o C; Santa Maria – 0o C, todas essas mínimas ocorreram em julho. Em 1885, as precipitações ocorreram no mês de julho em Bagé e agosto em, Santa Maria. Para o Rio Grande existe uma observação meteorológica de vários anos. Usando as médias, dessa série, dos períodos 1857 – 1861; 1877 –1887, temos 1885 como o ano de inverno mais frio com a temperatura média, desta estação, 12,4o C, sendo o mês de julho o mais frio desse ano, coincidindo portanto com o mês da precipitação de neve em Rio Grande e Bagé.

Fonte:Galarça, Paulo J. Pazzini Ondas de frio no Rio Grande do Sul ao longo do século XIX.
In Raìzes de Antonio Prado / org. Onira Baccarin, Dirce Brambatti Guzzo,
Véra Lúcia Maciel Barroso – Porto Alegre. EST, 2008.



[1] Atual município de Garibaldi.
[2] Atual município de Bento Gonçalves.

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