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terça-feira, fevereiro 21, 2012

Civilizações antigas e impactos climáticos na América do Sul.

O modelo da escala do ciclo dos fenômenos climáticos, esta fundamentado no sistema de redes meteorológicas construídas a partir do século XX. Portanto para a análise de um fenômeno complexo, como o clima, são poucas as informações que possuímos construídas a partir dos dados das estações meteorológicas produzidos desde aquela época até o presente. Observações registradas pelas sociedades são, portanto raras e ainda muito incompletas.
Os dados mais antigos foram construídos pela pesquisa na área da climatologia histórica, proveniente da documentação deixada pela colonização europeia. Em documentos antigos às vezes estão anotados, por exemplo, ocorrência de grandes secas, inundações, ondas de frios etc. Estas informações servem de suporte para registrar a possibilidade da ocorrência de fenômenos meteorológicos extremos nos séculos passados. Ainda não existem séries temporais de larga abrangência espacial produzidas a partir destes dados. A pergunta que fica é: que fenômenos meteorológicos aconteceram antes da chegada dos europeus e onde procurar informações sobre isto?
Atualmente sabemos que inúmeras culturas sul americanas desapareceram antes da chegada dos europeus e outras foram destruídas nos primeiros tempos da colonização. Os dados antropológicos e arqueológicos demonstram que muitos destes povos atingiram um desenvolvido estágio social e estavam fortemente baseados na agricultura, o que era um fator importante para estarem diretamente ligados aos fenômenos meteorológicos. Como agricultores dependiam diretamente do clima tornando-os observadores e registrando o que viam sobre o tempo.
Um dos trabalhos, que revelou dados extraordinários sobre este tema, está ligado à antiga cultura Mochica que estava localizada no norte do Peru entre a encosta da montanha e o litoral, o local é um dos mais áridos desertos quentes do planeta.
Atualmente, no local, existem ruinas de pirâmides, algumas tinham o porte das pirâmides egípcias, denominadas pelos moradores locais de Huacas. Os Mochicas construíram também uma rede de aquedutos que levava água para suas cidades, este sistema é usado até hoje pela população local. As escavações arqueológicas revelaram uma notável sociedade com a metalurgia altamente desenvolvida, uma rica técnica cerâmica, com vasos finamente decorados com desenhos mostrando detalhadamente o cotidiano da sociedade Mochica. Os dados da pesquisa mostraram que entre 560 e 650 DC esta cultura, misteriosamente, entrou em colapso e desapareceu. O que teria acontecido?
A pesquisa do arqueólogo canadense Dr. Steve Bourget trouxe perguntas interessantes. Ao examinar uma grande quantidade de ossos humanos, encontrados no local. A prospecção estratigráfica mostrou inúmeros ossos de seres humanos estavam enterrados num ambiente úmido, na lama. Como poderia ser isso num deserto, onde jamais chove?
As surpresas continuaram o que parecia serem somente restos de prisioneiros sacrificados revelaram, ao longo da pesquisa, que jovens da elite Mochica estavam ali sepultados. A análise dos ossos mostrou que não havia um padrão que motivou a morte, não seguiam os modelos de sacrifico ritualístico. O estudo feito na artística cerâmica revelou um dado surpreendente, a ornamentação, de alguns vasos, mostra guerreiros jovens duelando sob a chuva, a interpretação arqueológica propôs que se tratava de um ritual feito sob chuvas torrenciais. Novas prospecções feitas nas Huacas revelaram níveis estratigráficos com depósitos correspondentes a um ambiente de alta energia, como uma enchente, e nas camadas superiores depósitos de ambiente seco.
O trabalho desenvolvido pelo Dr. Lonnie G. Thompson trouxe elementos para construir um quadro impressionante. Sondagem feita no gelo da montanha revelou, nos testemunhos, sequencias estratigráficas, que quando datadas indicaram que entre 560 e 600 DC o clima da região passou por uma severa transformação, tudo indica a ocorrência do fenômeno ENOS numa escala sem registro histórico. A região foi assolada por 30 anos de intensas chuvas seguidos de um período seco que durou 30 anos, isto arrasou a cultura Mochica. De acordo com o modelo atual do ENSO, períodos úmidos na montanha correspondem à seca na costa e períodos secos na montanha chuva na costa, os testemunhos de gelo mostraram exatamente isto.
Se esta teoria estiver correta um evento desta escala deve ter atingido diversas partes do globo, em especial as regiões próximas provocando, por exemplo, seca na Amazônia e intensas chuvas no sul do Brasil

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