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sábado, dezembro 27, 2008

A queda de um meteoro em Alfredo Chavez, Rio Grande do Sul

Os fenômenos celestes sempre atraíram a imaginação popular, sendo fonte de muitas controvérsias. Ao longo do tempo, torna-se difícil para a ciência separar a lenda do fato cientifico e saber precisamente o que houve na época.
Este artigo visa discutir as notícias sobre a possível queda de um meteoro no Rio Grande do Sul, no ano de 1899, em Alfredo Chavez (atual município de Veranópolis).

A queda do meteoro

O jornal A Federação, em 1899, noticiou, em várias edições, o estranho acontecimento.
Na edição de 27 de março aparece a seguinte manchete “Bendegó no rio das Antas”, a noticia está assim detalhada:


Em dos dias da semana última caiu no rio das Antas um desses corpos sidereos, que solicitados pela atracção vem freqüentemente precipitar-se sobre a superficie do nosso planeta. A queda teve lugar entre Santa Bárbara e o ponto onde a estrada para Alfredo Chaves corta aquele rio.
Segundo nos informa pessoas fidedginas esse aerolitho obstruiu parte do rio e conserva ainda algum calor. O estrondo produzido pela queda foi ouvido em São João do Mo
ntenegro
[1].


No mesmo jornal, na edição de 10 de abril, do mesmo ano, consta que a seguinte matéria:


Meteorolitho.
Segundo ordens emanadas da secretaria de Obras Publicas, do Estado, seguiu no dia 10 de abril passado para Alfredo Chaves o engenheiro João Fernandes Moreira a fim de colher informações exactas sobre o logar onde poderia estar o meteorolhito, que diziam haver caído no dia 14 de fevereiro no Valle do rio das Antas, entre Santa Bárbara e o ponto em que a estrada de Bento Gonçalvez para Alfredo Chavez corta aquele rio.
Pelas informações recolhidas o Dr. João Fernandes Moreira seguiu no dia 17 para a Barra do Arroio “Jaboticaba”, que deságua na margem direita do rio das Antas, para obter noticias mais verdadeiras, pois diziam que o meteorolitho havia caído neste logar.
Nada sabendo sobre o tal aerolitho resolveu o Dr. Moreira seguir até o passo do rio das Antas na estrada de Alfredo Chaves a fim de informar-se do que ocorrera. Seguindo sempre pela margem direita desse rio indagava aos moradores qualquer notícia que o esclarecesse, até que encontrou um polaco de nome Valentin Taleska que disse: que na colonia número 40 ou 41, situada na margem esquerda do rio das Antas, pertencente ao italiano Giuseppe Cuncho, havia caido, mais ou menos por aquele tempo, pelas 3 horas da tarde, um enorme paredão, regulando ter 2700 m cúbicos; tendo sua queda determinado um grande estampido
Este facto, conforme fica acima narrado, o dr João Fernande Moreira retificou de ser inteiramente verídico, não tendo sido possível nem mesmo com um anneroide, determinar a altura da queda, que foi enorme.



Para esse mesmo ano (1899) estava em curso a noticia apavorante, divulgada em todo o mundo.
N a edição de A Federação, 15 de fevereiro de 1899, existe o seguinte artigo.

O fim do mundo.

Em 13 de novembro de 1899 encontro da terra com um grande cometa.
Morto pelo fogo, descargas elétricas.
Um profeta da sciencia moderna anuncia a morte de todos os habitantes do nosso planeta em 13 de novembro de 1899, das 2 para as 5 da tarde.
A noticia não admite gracejos, tanto mais quanto ella nos é transmitida por uma autoridade astronômica, digna de maior crédito, o Dr. Rodolphe Falb, astrônomo, professor de geologia da Universidade de Viena e da mathematica da de Praga.


O jornal A Federação publicou também matérias, nas edições de março, dias 14, 15 e 16, sobre a catástrofe. Os artigos detalham informações sobre a previsão de Rodolphe Falb a cerca do choque do cometa com a Terra. Nestes artigos existem detalhes técnicos e a identificação de Rodolfhe Falb como professor de geologia da Universidade de Viena. Enfatiza o articulista que o assunto é sério porque não se trata da fantasia de um estranho e sim dados de um respeitado cientista.

Na edição de 14 de março existe o parecer do Dr. Forester, diretor do observatório de Berlim e do Dr Cruls, diretor do observatório do Rio de Janeiro. Ambos afirmam que na data estipulada nada aconteceria a não ser uma queda de estrelas cadentes.

O jornal “O Estado” de São Paulo publicou uma matéria com o mesmo tema com o seguinte titulo “A propósito do fim do mundo”, edição de 11 de novembro de 1899. Neste artigo esta descrita a previsão de Rodolphe Falb, a qual diz que no dia 13 de novembro o cometa Biela, cem mil vezes maior que a Terra, deveria chocar-se com ela “não sobraria ninguém para contar a história pois a humanidade seria aniquilada”. O artigo descreve o pânico que se disseminou pela população, perante esta noticia, com casos trágicos.



Conclusão.

O assunto aqui discutido sobre a queda de um meteoro, no município de Alfredo Chavez, foi oficialmente arquivado pela administração do estado na época. O caso foi definido como um boato, segundo o relatório de João Fernandes Moreira não houve comprovação do fato.
Fica o questionamento, realmente nada houve? ou a posição das autoridades foi cautelosa, devido aos problemas que já havia em função da crise provocada pela previsão de Rodolphe Falb.


[1] São João do Montenegro está situado aproximadamente entre 40 e 45 km do local da queda.

domingo, dezembro 14, 2008

As influencias do fenômeno meteorológico de 1878 no município do Rio Grande, localidade do Taim.

Sobre o conhecimento de fenômenos meteorológicos como grandes precipitações, ondas de frio, nevascas, ou secas fortes, ocorridas no Rio Grande do Sul durante o século XIX, a literatura historiográfica gaúcha tem poucos estudos. Também a análise de como era, naquele século, o ambiente natural aqui no estado ainda carece de um estudo sistematizado.
Apenas registros pontuais, feitos na época, principalmente por viajantes, são mais encontrados. Dentro da produção científica gaúcha as ciências, sobre este tema, surgiram ou tornaram-se conhecidas só a partir do inicio do século XX. A meteorologia, por exemplo, é uma prática que oficialmente começou em 1909 com a fundação do Observatório da Escola de Engenharia de Porto Alegre, pouco sabemos como era o clima gaúcho nos séculos anteriores.

Entre os diversos registros documentais de eventos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul ao longo do século XIX, a maioria ainda não descrita na literatura, consta que em 1878 houve intensas chuvas na região que hoje corresponde aproximadamente ao município do Rio Grande, havendo registro de grandes alterações ambientais na localidade do Taim, onde estão as lagoas Caiuvá e Flores .


A influencia da enchente de 1878.

Sobre esta grande enchente na literatura aparece uma detalhada descrição e as conseqüências no ecossistema, em especial das duas lagoas citadas, e na comunidade local.
T. F. Mello faz a seguinte narrativa dos efeitos destas chuvas:


Em 14 de novembro de 1878, uma chuva torrencial, verdadeira avalanche, desabou sobre o districto do Tahim, no município do Rio Grande; as águas das lagoas Flores e Cayuvá cresceram de maneira descommunal, attingindo em poucas horas a 4 metros acima do nível ordinário, ligando-as em alguns pontos com a Mirim e cobrindo quase todo o terreno elevado que as divide.
Algumas famílias moradoras nas proximidades foram victimas da innundação, entre elas a do cidadão José Bernardes Cardoso, composta de esposa e 8 filhos menores, que foi colhida pelas águas e desappareceram na voragem.
Grande quantidade de gado vaccum, cavalar e lanígero foi arrastada pelo turbilhão, que rolava campo fora com medonha violencia, destruindo e arrancando, arrasando tudo que encontrava em sua passagem devastadora.


Para esse mesmo ano, R. Brasiliano também cita uma grande chuvarada, que produziu uma enchente no arroio Taim causando desmoronamento e obstrução do sangradouro.

Mello comenta a grande alteração da paisagem local, após este acontecimento. Segundo este autor as lagoas Caiuvá e Flores eram ligadas a lagoa Mirim pelo arroio Taim, que funcionava como um escoadouro natural. Este arroio iniciava na parte ocidental da lagoa das Flores e percorria 6 km até a lagoa Mirim, alcançando esta nas coordenadas de 32º de latitude e 9º 28´00 de longitude (coordenadas do Rio de Janeiro).

As margens deste arroio eram guarnecidas por uma mata, formada por arbustos e pequenas árvores, e o entorno cercado por campos, que na época eram usados para a prática da pecuária. Em condições normais a profundidade máxima do Taim era de 2 m, durante o período de cheias o nível da água subia de 4 a 5 m, nestas condições iates percorriam até 5 km além da foz.

O historiador João Borges Fortes mostra, na carta de Paes Leme, uma clara citação deste arroio:


Examinando a carta de 1737 se evidencia que a costa oriental da Lagoa Mirim devia ser conhecida dos espanhóis e que Paes a explorou. Verifica-se isso: primeiro, de sua ordem para que embarcações apropriadas subissem o sangradouro de São Gonçalo, e fossem encontra-lo, provavelmente, no passo da Borda da Mirim, dentro do posto avançado do arroio Taim, a que se encontra detalhada alusão na carta ao vice-rei


O naturalista francês Saint-Hilaire quando passou pela região em 1821, fez a seguinte descrição da paisagem:


Comecei a viajar pela península que separa a lagoa Mirim do mar e que tem a mesma direção que sua homóloga existente entre lagoa dos Patos e oceano
[...] Durante alguns instantes só pisamos areais, em seguida caminhamos sobre um gramado raso; contudo, principalmente à direita, percebemos ao longe grandes areais.
Apesar da igualdade do terreno o aspecto do campo nada tem de monótono. Grande número de cavalos e bovinos pastando [...] Abaixo do Caiová o istmo começa a estreitar-se [...] A uma légua de Capilha acha-se o lugar denominado Tahim [...] Para completar essa pequena descrição devo acrescentar que ao chegar à guarda de Tahim atravessei um regato denominado Arroio Tahim, cujas nascentes estão na parte meridional do banhado setentrional do lago do
[1]Albardão e que estabelece comunicação entre esse lago e a Mirim.


Pelas informações que os moradores forneceram a Saint-Hilaire, a lagoa das Flores não foi citada, provavelmente era vista como parte de um sistema maior.

Dreyz, viajou muito, na primeira metade do século XIX, pela então província do Rio Grande do Sul. Numa passagem assim ele descreve a região do arroio Taim:


[...] por isso que, da parte oriental não aparece água corrente alguma que se pudesse contar entre os rios, nem os afluentes das lagoas, pois não se pode chamar rios a alguns esgotadouros acidentais das águas estagnadas, como o Taim, na Lagoa Mirim, o qual não é senão o escoadouro da [2]Lagoa Saquarema. [...] a península do sul está ainda ocupada, no seu centro, pela já citada Lagoa Saquarema, que se prolonga na direção de Norte a Sul, sendo que fora das mesmas circunstancias físicas, ela não passa de uma continuidade de pântanos, comunicando-se entre si por parte mais ou menos inundadas, ao mesmo tempo que se acha em relação com a lagoa pelo arroio Taim..


A maneira como Dreyz se refere à lagoa Mangueira, pode significar duas coisas, ou a cartografia da época não havia detalhado a hidrografia, mostrando as lagoas Caiuvá e Flores como corpos d´água distintos, ou o ecossistema local era diferente.
Na obra deste autor podemos ver um mapa da Província do Rio Grande do Sul de 1839, onde aparece a lagoa Mangueira como “um sistema continuo” ligada, ao norte, à lagoa Mirim pelo arroio Taim.

Azambuja define o Taim, como um canal de descarga entre a lagoa das Flores e a lagoa Mirim. Enfatiza ele a influencia que este arroio tinha, na hidrografia local, inclusive em relação à lagoa Mangueira. Ele cita a obra “do historiador Resende Silva”, autor de um trabalho especializado sobre a região, o qual diz que nos tempos coloniais o leito deste arroio servia de limite oriental dos campos neutrais.

Segundo Melo e Resende Silva, após a grande enchente de 1878 a paisagem local começou uma grande transformação. Relatam eles que no dia 15 de novembro um forte vento de SO represou as águas das lagoas, o nível das águas baixaram devido à ação conjunta do vento e da insolação. No dia 18 podia-se observar grande quantidade de areia, troncos e diversos detritos que tinham obstruído a entrada do escoadouro isolando o canal da lagoa. Em aproximadamente 8 anos o arroio Taim ficou totalmente soterrado.

Após o soterramento do arroio grandes dunas com até 16 m de altura surgiram no local, os campos do entorno converteram-se num cinturão, com um perímetro entre 6 e 8 km, de banhados. Surgiram dois pequenos córregos um denominado pelos moradores, da localidade do Taim, de Figueira Torta o outro, denominado Aguirre, surgiu à oeste do rincão do Tigre. Estes dois córregos, devido ao pequeno tamanho e a topografia não substituíram, como canal de escoamento, o arroio Taim limitando-se a drenar parcialmente as águas do banhado.
Esta enchente não foi um fato isolado, a documentação da época mostra o registro, para o mesmo ano, de grandes inundações em Porto Alegre, e outras partes do Rio Grande do Sul.


As causas das enchentes de 1878.

O El Niño é apontado como responsável por um período de precipitações, no Rio Grande do Sul, acima da média do estado. No modelo, em nível hemisférico, é aceito que no período da manifestação do fenômeno existe uma relação entre intensas chuvas na costa oeste da América do Sul, em especial no Pacífico equatorial, secas fortes no nordeste brasileiro e intensas chuvas no Rio Grande do Sul,.

O ano de 1878 está de acordo com este modelo, no qual houve a ocorrência de intensas chuvas no Perú, uma forte seca no nordeste brasileiro, e a ocorrência de fortes chuvas, seguidas de inundações, em diversas partes do Rio Grande do Sul. De acordo com o quadro de registros históricos (CPC/NCEP/NOAA, 2001) o ano de 1878 foi de El Niño forte.

Nos anos de El Niño o período mais intenso da manifestação do fenômeno, no Rio Grande do Sul, ocorre entre outubro e novembro estando portanto de acordo com os dados históricos apresentados neste artigo.

[1]Designação que os portugueses davam para a lagoa Mangueira.
[2] Palavra derivada de Squarembó, designação que os indígenas davam à lagoa Mangueira.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

El Gran Seco.

Sobre grandes anomalias climáticas ocorridas no passado, na América do Sul, em tempos históricos, ainda falta um estudo detalhado de recuperação de documentos sobre este tema. Um relato muito interessante é do naturalista inglês Charles Darwin. Em seu diário faz menção a uma grande seca ocorrida entre 1827 e 1830, na Argentina, este período ficou conhecido como “gran seco”. Em base de relato dos habitantes ele cita que a parte norte da província de Buenos Aires e parte sul de Santa Fé, foi a mais atingida os rios da região secaram. Um grande número de animais pereceu tanto gado como animais da fauna.
Somente na província de Buenos Aires avaliou-se que um milhão de animais bovinos morreram. Na última fase do “gran seco” navios traziam animais para o consumo da população. Segundo os moradores da região, milhares de animais bovinos correram para o rio Paraná exaustos morriam atolados na lama das margens. A bifurcação do rio que passa por São Pedro ficou tão cheia de carcaças de animais que o cheiro insuportável dificultava a navegação. Também a seca aumentou a salinidade dos rios, da bacia, tornado-os venenosos o que teria contribuído para matar também muitos animais. Darwin usa as anotações do naturalista espanhol D. Felix de Azara que descreve o quadro onde manadas de cavalos que invadiam os pântanos pisoteando uns aos outros e morrendo afogados e de exaustão, Azara comenta que em uma ocasião viu cerca de mil animais mortos dessa forma.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Um naturalista francês em São Borja

Um fato pouco conhecido, na história de São Borja, é que nesta cidade viveu o francês Aimé Bonpland um dos mais importantes naturalistas do passado. Bonpland. nasceu em La Rochelle (França) nem 29 de agosto de 1773. Cursou medicina na Universidade de Paris, embora a sua paixão fosse a botânica, disciplina que cursou no Jardim Botânico de Paris. Nesse Período conheceu o alemão Alexander Von Humboldt, jovem este que mais tarde viria a construir uma enorme obra científica, Bonpland ensinou a Humboldt botânica, zoologia e anatomia e este ensinou a Bonpland física terrestre, astronomia e meteorologia.

Em 1799, viajaram juntos durante cinco anos pela Espanha, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Cuba, México e Estados Unidos desta viajem resultou uma enorme obra que consagrou mundialmente os dois cientistas, entre vários empreendimentos Bonpland dedicou-se, nesta expedição a botânica reunindo um herbário (coleção de espécies vegetais) com sessenta mil espécies. Bonpland regressou a França onde ocupou o cargo de encarregado do Jardim Botânico de D. Josefina esposa de Napoleão I.

Em 1814 Bonpland decidiu voltar para a América do sul a convite de Simon Bolívar para radicar-se na Venezuela, tendo mais tarde residido em Buenos Aires a convite de Bernardino Rivadavia, Sarratea e Belgrano que o tinham conhecido em Londres.. Bonpland chegou em Buenos Aires em 1817 acompanhado pela sua mulher, dois jardineiros, grande quantidade de sementes e duas mil plantas (medicinais, frutíferas e hortaliças).

Tinha o projeto de fundar o Jardim Botânico, como o ponto de partida para o Museu de Historia Natural Nacional, as dificuldades que haviam na época devido à situação de guerra demoraram a concretização do projeto. Em Buenos Aires praticou a medicina e colaborava com os Jornais locais como consultor sobre assuntos ligados a ciências naturais. Em 1820 decidiu fazer uma viagem ao Paraguai e a província de Missiones, a partir desse período estabeleceu a sua base em Corrientes, a partir dessa localidade fez várias expedições não só para coleta de plantas mas também com a idéia de formar uma colônia agrícola para a exploração de erva-mate, num sistema metódico de cultivo.

Na sua fazenda Santa Ana (Corrientes) desenvolveu o projeto do cultivo sistemático de erva-mate, este trabalho foi interrompido devido ao ataque sofrido. A propriedade foi invadida por um exército de 400 homens a mando do ditador Paraguaio José G. Rodriguez, que o considerava um espião perigoso aos negócios do Paraguai. A plantação foi destruída e Bonpland levado como prisioneiro para o Paraguai, apesar dos protestos mundiais ficou preso por nove anos, durante esse período exerceu a medicina e se ocupou da agricultura. Após ser liberto decidiu viver em Missões.

Em 1831 estabeleceu-se em São Borja, na sua chácara, nesta cidade, produzia vegetais aromáticos, medicinais fazia experiência com erva-mate e criava ovelhas da raça merina, permanecendo entre nós por 21 anos, incluindo o período da revolução Farroupilha. Era chamado, pela população local, de Dom Amado, constitui aqui nova família, sobre São Borja escreveu na sua correspondência “os habitantes se mostram doces,afáveis e cheios de atenção” as dificuldades do período da revolução prejudicaram as suas incursões científicas pelas Missões, embora ele tenha continuado as suas atividades, como por exemplo o intercâmbio com o fazendeiro serrano Pedro Chaves, a quem vendia ovelhas. No primeiro negócio o próprio Bonpland foi na tropeada conduzindo, com seus tropeiros, 400 ovelhas por um percurso de 73 léguas ao longo de 25 dias.

Ao tropear ia fazendo observações, numa dessas ocasiões descobriu uma nova euforbiácea denominada pau-de-leite que produz uma borracha branca, espessa, e cinco diferentes espécies de erva-mate, variações já conhecidas pelos índios da região.

Em 1854, foi nomeado diretor do Museu de La Província e a França o nomeou membro da academia de Ciências, uma instituição científica alemã denominou a sua revista Bonplandia. Apesar de sua idade avançada continuava com as expedições. Morreu na fazenda de Santa Ana (Corrientes) em 11 de maio de 1858 aos 85 anos. O arquivo de Bonpland ficou depositado na Faculdade de Ciências medicas em Buenos Aires

sábado, novembro 29, 2008

O registro da climatologia histórica.

Na história do serviço meteorológico praticado, durante o século XIX, na Província do Rio Grande do Sul e mais tarde estado do Rio Grande do Sul, duas fontes são de grande importância o “Annuario Estatístico da Província do Rio Grande do Sul”, mais tarde denominado “Annuario Estatístico do Estado do Rio Grande do Sul” e o jornal a Federação.
O anuário foi fundado em 1885 por Graciano Alvez D’Azambuja, o qual foi escritor, jornalista e advogado publicava uma seção sobre a meteorologia do Rio Grande do Sul, com dados instrumentais e por vezes observações sobre temas ligados à Meteorologia e Climatologia, segundo as observações feitas por José Antônio Coelho Leal, (meteorologista que publicava no Annuario) Azambuja possuía, em sua sala de trabalho, equipamentos meteorológicos e fazia observações regulares. Leal refere-se ao fato de Azambuja não querer publicar os seus dados porque não os considerava confiáveis, uma vez que os aparelhos não estavam corretamente colocados.
Também o jornal “A Federação” publicava regularmente dados meteorológicos que eram enviados pelo observatório de Porto Alegre. Este jornal foi fundado em 1884 e extinto em 1937, funcionou, na última fase, onde hoje é o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, na cidade de Porto Alegre.
Além da meteorologia esses dois veículos contribuíram muito para a divulgação de conhecimento científico também de outras áreas, sendo, hoje, importante fonte para quem se dedica à pesquisa da história da ciência no Rio Grande do Sul.

A vegetação do Rio Grande do Sul


O botânico alemão Carl Axel Magnus Lindman percorreu o Rio Grande do Sul em 1893, fez um detalhado estudo da flora do estado, descrita no seu livro “A Vegetação do Rio Grande do Sul”. Entre várias observações aparece uma ilustração onde está representada uma árvore, localizada na colônia de Nova Ijuhy, uma laurácea conhecida popularmente por Canela Branca. O que surpreende é o tamanho da árvore, segundo Lindman tinha aproximadamente 30m de altura.
Hoje, exemplares desse porte não são mais encontrados nas matas nativas do estado.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Breves notas sobre a história do Rio Grande do Sul.



Sobre o ambiente natural e a ocupação humana, do Rio Grande do Sul, duas fases são importantes, o período anterior e o posterior à ocupação européia. Neste artigo serão tratados os seguintes focos: a questão do registro histórico, os livros que hoje temos são produtos da documentação produzida pelos europeus que aqui chegaram, pouco sabemos de registros anteriores a eles, o que não significa que não tenha existido. Inúmeros trabalhos de pesquisadores atuais demonstram a extinção de diversas culturas, sobre as suas memórias pouco sabemos.
A paisagem natural, no que diz respeito a hidrosfera e a biosfera, é um produto altamente organizada pelo clima que irá determinar o perfil do espaço natural. Discutirmos estas coisas tem a complexidade de que não estamos falando de eventos locais, as pesquisas modernas apontam para a rede de acontecimentos, apenas modeladas localmente. Não é possível, nestas breves linhas, tentar discutir profundamente este assunto. Partiremos de uma fronteira, a idade geológica de 10.000 AP, época pleistocenica, na região, onde hoje está o Rio Grande do Sul, a paisagem era formada por uma estepe fria. Por volta de 5.000 AP, época holocênica, houve um extraordinário aquecimento global, com uma mudança radical no clima planetário, a linha de costa dos oceanos avançaram para dentro dos continentes, novamente o clima local passa por uma transformação, o sitio onde hoje está Porto Alegre estaria quase submerso, em um sistema lagunar, apenas a parte mais alta dos morros estavam emersas. Nestas condições houve grandes alterações na biosfera, espécies desapareceram, outras ocuparam os ecossistemas, o perfil vegetal, com o desenvolvimento das matas começou a se estruturar.
Os climas que hoje existem no estado, são recentes, falta pesquisa para sabermos quando se formaram, mas provavelmente numa retrospectiva, até o século XVIII, eles eram como os atuais. Apenas algumas anomalias climáticas como ocorrência de grandes nevascas, furacões, etc. ocorreram em escala hoje desconhecida. As causas disso ainda não podem ser adequadamente explicadas..


A ocupação humana

Os registros mais antigos, até agora encontrados nas prospecções arqueológicas, datam de 13.000 AP, tradição Umbú, e 6.500 AP, tradição Humaitá, pouco sabemos sobre eles, provavelmente eram caçadores coletores. Um grupo mais recente e numeroso era os Guaranis, já com uma cultura bastante organizada, com a prática de domesticação de animais e vegetais e a prática de uma gricultura organizada e confecção de cerâmica. Ainda não está adequadamente estimada a população dos diferentes grupos que aqui viviam. Algumas culturas não mais existiam, quando os europeus aqui chegaram, e outras foram destruídas, literalmente, ou transformadas, onde a memória foi perdida.
Sobre o registro do Rio Grande do Sul como um território, ou seja posse de alguém, em 1534 aparece no mapa de Gaspar de Viegas a citação do Rio da Província de São Pedro, entre 1606 e 1607 os jesuítas portugueses tentaram um projeto colonizador, chegando até as cercanias de Porto Alegre, pouco resta de registros sobre este projeto. Em 1721 os jesuítas espanhóis chegaram no estado, catequizaram os guaranis e fundaram as cidades que ficaram conhecidas como “Sete povos das Missões”, isto durou até 1801, quando estas cidades entraram em decadência, em meio a inúmeros episódios de disputas econômicas.
O governo oficial, preocupado com a preservação das fronteiras políticas, começou uma política de atração de imigrantes. Em 1746 chegou no estado o primeiro grupo de colonos açorianos, na prática econômica este grupo desenvolveu a lavoura do trigo, que por volta de 1780 já era um produto de exportação.
Por volta de 1824 chegou o primeiro grupo de alemães e em 1876 chegaram os italianos. Os alemães e os italianos se estabeleceram no planalto, organizados em pequenas propriedades familiares, onde praticavam a agricultura de subsistência e um pequeno comércio com os excedentes.


O impacto ambiental

Enquanto que as comunidades pré-européias eram integradas com o ecossistema, a ocupação européia tinha um impacto maior, muito cedo já havia uma produção visando o mercado internacional. Além do comércio do trigo, já citado, em 1832 tábuas já eram exportadas para Buenos Aires, demonstrando a antigüidade do desmatamento das florestas nativas, além do comércio de espécies animais nativas, especialmente para retirar a pele.
Devido a estas práticas antigas, a falta ou raridade de documentos, que tenham registro quantitativo, a atual pesquisa tem muitas dificuldades para determinar características como a espacialidade das espécies nativas tanto animais como vegetais, quantificação e biodiversidade.
Nas narrativas de diversos viajantes, que percorreram o Rio Grande do Sul, durante o século XIX, como Saint-Hilaire, Arséne Isabèlle, Lindman entre outros, já evidenciam, nos seus escritos, o intenso avanço, sobre as paisagens naturais, das lavouras e fazendas com criações de gado.


Paulo Jolar Pazzini Galarça.