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sábado, abril 11, 2009

O tempo no Rio Grande do Sul ao longo do ano de 1844

O clima do Rio Grande do Sul em 1844 segundo dados extraídos do diário de Antonio Vicente da Fontoura, um dos líderes da Revolução Farroupilha.



Janeiro.

5 – chuva
6 – frio
7 – NE forte e frio, cerração
8 – NE forte e frio, cerração
13 – sol lindo
14 – chuva
21 – chuva, vento norte
22- Fresco, sol fortíssimo
24 – Sol quente
30 – dia de maior calor que tem feito neste verão, nem a mais leve aragem
31 – Trovejando muito
Número de dias de chuva – 3
Número de dias frios - 3

Fevereiro

2 – chuva
4 – chuva. Neblina com intervalos de sol
6 – enchente
16 – vento norte mais quente que o sol. Dores de cabeça
26 – calor excessivo
Número de dias de chuvas – 3
Número de dias frios – 0
Total de dias observados - 5

Março

3 – frio
18 – chuva
19 – madrugadas frias, flores murchas, frutos passados.
30 – grande neblina. Sol ardentissimo ao meio dia
Número de dias de chuvas – 1
Número de dias frios –2
Total de dias observados - 3


Abril

2 – sol quentíssimo
10 – quase geada
17 – chuva, vento norte
18 – chuva
Número de dias de chuvas – 2
Número de dias frios – 1
Número de dias observados - 4

Maio

1- frio
13 – chuva constante
16 – chuva
18 – frio terrível durante a noite
23 – frio
26 – Muita geada durante a noite. Vem to sul frio
Número de dias de chuvas – 2
Número de dias frios - 4
Número de dias observados - 5


Junho

12 – frio excessivo
16 – frio
21 – muita geada
30 – dia de verão
Número de dias de chuvas – 0
Número de dias frios - 3
Número de dias observados - 4

Julho

5 – Cerrado
6 – Vento fortíssimo. Frio extraordinário
31 – Temporal
Número de dias de chuvas – 1
Número de dias frios – 1
Número de dias observados - 3



Setembro

7 – choveu muito
12 – lento desenvolver da vegetação
23 – chuva
24 – chuva todo o dia
25 – chuva abundante. Tormenta acompanhada de pedras regulares
26 – chuva muito copiosa . enchente de São Miguel
27 – chuva, vento e pedras. Desde agosto quase um quartel de inverno
Número de dias de chuvas – 6
Número de dias frios – 1
Obs. Desde agosto inverno forte.
Número de dias observados - 7


Outubro

4 – vento este forte
9 – chuva
10 – chuviscou todo o dia. Vento, trovão, nuvens negras.
Número de dias de chuvas – 2
Número de dias frios – 0

Total
Dias de chuvas – 20
Dias de frio – 15
Mês mais chuvoso – setembro
Mês com mais dias de frio – maio


Antonio Vicente da Fontoura registra para o ano de 1844 a enchente de São Miguel no dia 26 de setembro. A propósito, transcrevemos a seguinte observação “Sobreveio a infalível enchente de São Miguel, as abundantes chuvas que coincidem com o equinócio de setembro.

terça-feira, abril 07, 2009

Registros de imagens sobre o tempo meteorológico.

Na pesquisa da climatologia histórica, anterior ao século XX, sobre eventos ocorridos no Rio Grande do Sul, são raros os documentos com algum tipo de imagem. Em setembro de 1754 o exército do general Gomes Freire foi surpreendido por um fortíssimo temporal no Passo do Jacuí (Rio Grande do Sul), ocorrência esta conhecida como a enchente de São Miguel. O coronel Miguel Angelo Blasco, engenheiro e quartel-mestre general do exército de Gomes Freire, pintou três quadros do acampamento inundado. Este interessantíssimo material foi publicado, em 1931, pelo General Borges Fortes.



domingo, abril 05, 2009

Aterro do Centro na cidade de Porto Alegre.

O desenvolvimento da área urbana de Porto Alegre tem avançado sobre a planície de inundação do lago Guaíba, nos documentos do século XIX, já aparecem solicitações junto à administração requerendo licença para isso. A partir do século XX, este processo tornou-se mais intenso devido ao crescimento da urbanização. As fotos abaixo dão uma idéia da grande quantidade de aterro feito somente no século XX, entre os anos de 1916 e 1987. O Paço (local assinalado como referência nas figuras) é o prédio onde funciona a prefeitura.





quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Observatório meteorológico em Porto Alegre.

Na cidade de Porto Alegre, para a primeira metade do século XIX, já existem documentos relatando informações sobre meteorologia. Esses documentos são pouco detalhados, sendo difícil construir com eles uma série temporal. Os registros mais regulares começaram a ser produzidos a partir de 1893, com o inicio do funcionamento do Observatório da Secretaria de Obras Publicas, sob a direção do engenheiro Dr. Afonso Herbert.
Localizava-se no torreão norte do edifício cito à praça Marechal Deodoro (atual praça da Matriz, Centro). Atualmente este edifício tem o apelido de “Forte Apache" encontra-se na esquina da rua Jerônimo Coelho com a referida praça. Azambuja (1893) cita uma série com dados de temperatura média mensal, precipitação total mensal, pressão atmosférica mensal, para todo o período de funcionamento deste observatório, (1893 – 1913). O autor também comenta que era monitorada a altura do lago Guaíba, mas os documentos consultados não trazem nenhum dado quantitativo sobre estas medições”.


No “Relatório de Negócios e Obras Públicas” de 1895 Herbert faz a seguinte descrição, sobre os instrumentos do observatório:


Continua funcionando regularmente o observatório meteorológico havendo entretanto, por motivos imprevistos, algumas faltas de registro do anemometro e do anemoscopio como sejam: polarisação das pilhas e desarranjo do mechanismo dos aparelhos.
Com a chegada dos tubos para o barometro a mercúrio registrador (grande modelo) entre os quaes sómente um chegou em bom estado, foi montado o dito barômetro, que funciona com perfeição desde abril.
O serviço de signaes indicando a hora média ao meio dia, teve de ser interrompido, devido a irregularidade que repentinamente manifestou-se na marcha dos chonometros, aliás muito antigos.
Esses chonometros foram enviados á casa Fonseca, Machado & Irmãos, do Rio de Janeiro, afim de serem consertados se a isso se prestarem.
O chonometro n. 11 da Sociéte Genevoise du Locle, depois de sofrer alguns retoques nas oficinas de Jeanneret & Krentel, acha-se atualmente em observação, afim de determinar-se com precisão sua marcha, servindo desde já o mesmo para o serviço de signaes mencionados, que foram encetados em 10 do corrente.
Depois de concluídas as obras do edifício d’esta repartição serão montado no torreão sul o electometro de Mascarat, que necessita de uma camara escura.


Os dados dos registros, produzidos neste observatório, eram enviados a vários jornais, mas Herbert comenta que somente os jornais “A Federação” e o “Deutsche Zeitung” publicavam regularmente essas informações meteorológicas.







quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Prognostico do tempo

Houve um homen de espírito na Europa que apostou com outro affirmando que nenhuma mentira ou mystificação, por mais absurda e arrojada que fosse, deixava de encontrar crédulos; e ganhou a aposta.
Anunciou elle que descobrira um meio de produzir e multiplicar as carpas artificialmente, e que uns poucos grammos de certo pó, que inventara ao cabo de longos annos de estudos e de experiências eram sufficientes, sendo lançados em tanques de água limpa, para enche-lo no fim de um ano, de numerosas e boas carpas.
Involvia isto nada menos que do que a resolução do maior problema da chimica organica – a produção artificial de vida.
Mas não enxergaram isto os ignorantes. Sem embargo do desdem dos homens competentes e do alto preço dos taes pós – choveram os compradores.
Devolvendo a um dos freguezes o dinheiro destinado a um dos frasquinhos do pó maravilhoso – disse o seu inventor: Nada inventei. As carpas se reproduzem e multiplicam como os outros peixes da sua espécie. Apostei apenas que todas as mentiras encontram crentes. Ganhei a aposta. Estou satisfeito. Ahi vai o seu dinheiro. Agradeço-lhe o ter contribuido para a minha victoria. Não fique triste por este facto; console-se um tanto. Antes de sua encommenda eu já recebera mais de uma centena de pedidos iguaes.
O numero de credulos é immenso.
Recordamos isto a proposito dos prognosticos do tempo que se encontram em algumas folhinhas e almanachs de distribuição gratuita para o reclame e annuncio de remedios, prognosticos que encontram entre nós (vergonha é dize-lo) uma notoria fé, uma pasmosa credulidade.
Nos paizes adiantados como a França, a Inglaterra, a Bélgica, etc. onde os serviços públicos estão melhor organizados do que entre nós e onde a meteorologia tem já a importancia de que é digna há repartições centraes que recebem diariamente communicações telegraphicas da temperatura e humidade do ar, pressão atmosférica e ventos reinantes nos principaes pontos do respectivo territorio e dos territorios visinhos e que em vista destas communicações anunciam o tempo provavel para o dia seguinte annuncio que, segundo o clima do paiz, importa muitas vezes na previsão do tempo para dous ou tres dias proximos.
O Times, em Londres, publica estes annuncios firmados com a assignatura do secretário da repartição meteorológica, e o mesmo fazem quase todos os grandes jornaes diarios, quer em Londres, quer em muitas capitais e cidades importantes da Europa.
Esses prognosticos fundados em base incontestadas e feitos apenas com vinte e quatro horas ou pouco mais horas de antecedencia, verificam-se na maioria dos casos e previnem, por vezes, muitos desastres annunciados a aproximação e iminencia de tempestades que poderiam ser fataes a navios que estão a partir.
Mas falham outras vezes e de um modo notavel – parecendo-se, então, o tempo annunciado com o real tanto como um ovo com espeto como se diz vulgarmente.
Ora, si as previsões do tempo assim determinadas (e só para o dia seguinte) são apenas mais ou menos provaveis, como é possivel que se prognostique o tempo, como fazem as folhinhas e almanachs alludidos, com um ano de antecedencia, e isto para um paiz vasto como o Brazil, que tem, disseminados por sua superficie, uma grande variedade de climas?!
Sabem todos aquelles que tem viajado pelo interior do imperio a diversidade dos nossos climas. Devem estar na lembrança de todos as horrorosas secas que assolam por vezes uma, duas ou tres provincias do norte ao passo que no sul há abundancia de chuvas. Não devem tambem estar esquecidas as secas que as vezes ocorrem nesta provincia, no verão, sem que della se ressintam provincias mais proximas. A estação das chuvas no Rio de Janeiro, Minas São Paulo e Paraná é nos mezes de primavera e verão; inversamente aqui é nos meses de outmno e primavera. No anno passado tivemos nessa provincia um inverno abundantissimo em chuvas; no entanto lembramos ter lido uma carta de pessoa autorisada residente nos confins de Minas (Uberaba), datada do fim de agosto dizendo: Desde março que aqui não chove.
O mesmo vai para outras zonas do império; o clima de uma não se parece com o clima de outra. A climatologia do paiz alem de variadissima é mui pouca conhecida; em regra cada provincia conhece o seu clima, ignorando o clima de suas irmãs.

Fonte: Annuario da Provincia do Rio Grande do Sul
Para o ano de 1887.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Nota sobre a história da meteorologia gaúcha.

No estudo da climatologia histórica, a documentação mostra o inicio deste trabalho ligado às dificuldades encontradas pela administração da época, tais como o vazio demográfico e a dificuldade da implantação de um serviço estatístico, importante, como suporte para a observação. José Pedro César encarregado dos trabalhos estatísticos em 1831 enviou ao imperador o seguinte oficio:


A dificuldade dos meios para conseguir os dados, particularmente geográficos e os relativos à parte natural, deve-se ao fato de haver necessidade de trabalhos muito detalhados, viagens a lugares distantes e de difícil acesso, com despesas consideráveis. Como exemplo registra-se o fato que para se saber qual a temperatura de determinado lugar, havia a necessidade de se deslocarem até o local para fazer a medição da temperatura média, e essa observação deveria ocorrer pelo menos durante 20 anos para que se tivesse certeza do fato, resultando dessa forma, uma estatística imperfeita, porque, na falta dessa observação direta, era necessário recorrer a obras antigas ou ao conhecimento de algum cidadão ilustre da época.


Na primeira metade do século XIX algumas estações começaram a funcionar, gerando dados locais, mas não havia informações para classificar o clima do Rio Grande do Sul. O projeto mais antigo, até agora encontrado na documentação para a formação de uma rede meteorológica foi o iniciado em fins de 1883. O então chefe da Commisão de Melhoramentos da Barra do Rio Grande, o Dr. Honorio Bicalho, tratou de organizar um serviço meteorológico usando a rede de telégrafos, no total vinte cidades faziam parte desta rede.
Cada estação recebeu um termômetro de maxima e mínima (de six) de Negretti & Zambra, um barômetro aneroide de Casella, e um pluviômetro com aprovette graduada de Casella.
Em 1885 a Commisão de Melhoramentos, começou a organizar o material coletado, houve problema na qualidade dos dados, sendo necessário organizar um serviço para treinar os técnicos que faziam as coletas nas estações.
Provavelmente este foi o trabalho pioneiro para a geração de elementos que permitiu, na época, tentar definir o clima gaúcho.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Sobre fenômenos meteorológicos.

Atualmente ocorrem, no Rio Grande do Sul, fenômenos meteorológicos de grande intensidade, como chuvas de granizo e tormentas, com ventos muito fortes causando grandes prejuizos materiais e morte de pessoas. Os meios de comunicação, ao informarem a população, muitas vezes evidenciam a surpresa por não haver registro de fatos, na meteorologia gaúcha, com uma escala similar ao que tem ocorrido no presente,.
Pouco sabemos sobre o clima do Rio Grande do Sul no período histórico anterior ao século XX, mas documentos administrativos e relatos de viajantes trazem informações interessantes sobre este tema:
O viajante francês Saint Hilaire, também no seu diário fazia anotações sobre a meteorologia, no ano1821 registrou:

Tronqueira , 13 de abril: [...] Algumas horas antes do por do sol o céu apresentou-se coberto de negras e expessas nuvens e logo teve inicio um verdadeiro furacão, o mais terrivel que tenho presenciado em minha vida. A escuridão era tamanha que dificilmente podia ler. Por todos os lados o céu era riscado por relâmpagos. As trovoadas sucediam-se, sem interrupção, e o ronco do vento ultrapassava o ruído do trovão, dado a sua violência.
Nesse momento achava-me, em companhia do pequeno Diogo, na sala de meu hospedeiro. Estando aberto a janela e a porta, tudo que se achava sobre a mesa foi carregado pelo vento; corri a fechá-las, mas nesse momento, uma parte do telhado foi arrebatado e, apesar da casa ser nova, um pedaço da parede, construida com tijolo e barro, foi derrubada pelo furacão e emtulhado por cima de minhas malas. A água caia torrencialmente dentro da casa pedaços de talhas voavam ao redor de min [...] Ao fim de sete ou oito minutos a intensidade do furacão diminuiu. [...] Entrementes, chegaram Matias e Lourette. O primeiro contou-me que ao inicio do furacão encontrava-se, com Firmino, na carroça e que não obstante o enorme peso da viatura e a horizontalidade do terreno, fora lançada contra uma árvore que ela arrancara, sendo a coberta atirada longe.


No Quadro Estatístico e Geográfico da Província de São Pedro encontramos o seguinte relato: [...] a espantosa detonação que coincidiu com a elevação de uma tromba na foz do Jacuhy. Este fenômeno ocorreu em 1822, o viajante Michael George Mulhall, embora tenha percorrido o Rio Grande do Sul de pois desse período também cita, no seu diário, esse fato através de relatos colhidos entre os moradores de Porto Alegre.

O francês Nicolau Dreys faz a seguinte descrição de outro fenômeno:

Presenciamos no Rio Pardo uma tremenda chuva de pedras, e também foi êsse um dos mais furiosos furacões que temos visto nos dois hemisférios.
Num instante a vila não ofereceu senão montões de ruínas; todas as vidraças e grande parte dos telhados cairam quebrados, paredes inteiras foram derrubadas, e outras crivadas como pela metralha; todas as árvores das quintas ficaram reduzidas ao tronco principal, e muito gado morreu no campo adjacente

Dreys percorreu o Rio Grande do Sul entre 1817 e 1839, não especifica em que ano ele observou esta tormenta.

No Annuario do Estado do Rio Grande do Sul, Azambuja comenta o riogoroso inverno de 1885 :

O phenômeno de agosto de 1879 em Cima da Serra foi devido, si não nos enganamos, a uma grande tempestade que se fez sentir tambem na capital, na noite de 8 pra 9 de agosto, onde produzio muitos desastres no caes ancoradouro, tempestade que atravessou uma grande parte do Brazil fazendo sentir os seus rigores, conquanro com menos intensidade, nas provincias de Paraná e de S. Paulo e indo além até Uberaba e Goyaz.

Estes são alguns exemplos sobre uma grande quantidade de registros, muitos ainda desconhecidos dos historiadores e climatologistas.